Espelho meu, espelho meu…
Tão simples que até uma criança o poderá compreender. O Papalagui,
livro publicado em 1910 pelo escritor alemão Erich Scheurmann (Hamburgo, 1878 -Armsfeld,
1957), oferece-nos uma apreciação fascinante e atualíssima da civilização
ocidental sob a perspetiva de uma mente despida de preconceitos e intimamente
ligada àquilo que verdadeiramente deve assumir o protagonismo nas nossas vidas.
Estruturada segundo a forma de uma breve coleção de
discursos proferidos pelo chefe de uma tribo samoana que visitou uma cidade
ocidental, este pequeno livrinho destaca, contudo, o paradoxo em que todos
vivemos: temos demasiado do que não precisamos, lutamos por um conceito falso
de felicidade, vivendo permanentemente infelizes e insatisfeitos a olhar com
inveja por cima do ombro ou para os lados, porque apenas ambicionamos o que
ainda não comprámos. E para quê? De que necessitamos verdadeiramente para viver
em harmonia connosco e com o mundo? Em que valores assenta a nossa sociedade? Seremos,
afinal, assim tão civilizados e evoluídos? Estas são algumas das questões com
as quais nos depararemos ao “ouvirmos” os discursos partilhados generosamente pelo
chefe de tribo de Tuiavii de Tiavéa aos seus conterrâneos.
Testemunhos da vida do Homem Branco europeu, tão simples e
caricatos que “nós, homens brancos e esclarecidos”, como refere o autor, seremos
obrigados a sorrir e depois a refletir sobre a bizarria e vacuidade de muitos
dos nossos comportamentos diários. Ilustrado com imagens cativantes muito
próximas das de uma banda desenhada, a edição da Antígona de O Papalagui
lê-se naturalmente com curiosidade e agrado, num instante, é certo, mas nunca
mais se esquece.
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