segunda-feira, 17 de fevereiro de 2025

O Papalagui

 

Espelho meu, espelho meu…

Tão simples que até uma criança o poderá compreender. O Papalagui, livro publicado em 1910 pelo escritor alemão Erich Scheurmann (Hamburgo, 1878 -Armsfeld, 1957), oferece-nos uma apreciação fascinante e atualíssima da civilização ocidental sob a perspetiva de uma mente despida de preconceitos e intimamente ligada àquilo que verdadeiramente deve assumir o protagonismo nas nossas vidas.

Estruturada segundo a forma de uma breve coleção de discursos proferidos pelo chefe de uma tribo samoana que visitou uma cidade ocidental, este pequeno livrinho destaca, contudo, o paradoxo em que todos vivemos: temos demasiado do que não precisamos, lutamos por um conceito falso de felicidade, vivendo permanentemente infelizes e insatisfeitos a olhar com inveja por cima do ombro ou para os lados, porque apenas ambicionamos o que ainda não comprámos. E para quê? De que necessitamos verdadeiramente para viver em harmonia connosco e com o mundo? Em que valores assenta a nossa sociedade? Seremos, afinal, assim tão civilizados e evoluídos? Estas são algumas das questões com as quais nos depararemos ao “ouvirmos” os discursos partilhados generosamente pelo chefe de tribo de Tuiavii de Tiavéa aos seus conterrâneos.

Testemunhos da vida do Homem Branco europeu, tão simples e caricatos que “nós, homens brancos e esclarecidos”, como refere o autor, seremos obrigados a sorrir e depois a refletir sobre a bizarria e vacuidade de muitos dos nossos comportamentos diários. Ilustrado com imagens cativantes muito próximas das de uma banda desenhada, a edição da Antígona de O Papalagui lê-se naturalmente com curiosidade e agrado, num instante, é certo, mas nunca mais se esquece.

Natália Pinto
Docente de Português
(Coordenadora do Plano Cultural de Escola)
 (Responsável pela Revista do AEVilela)

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