quinta-feira, 13 de fevereiro de 2025

A Amiga Genial


Este livro marcou-me porque, apresenta personagens complexos e realistas, especialmente Lila e Elena, cuja amizade oferece uma rica exploração das dinâmicas humanas.

Ferrante utiliza uma prosa envolvente e poética, que cativa o leitor e o faz mergulhar na história e nas emoções das personagens.

"A Amiga Genial "é o primeiro livro da quadrilogia "Napolitana", escrita pela autora italiana

Elena Ferrante. A narrativa se passa em Nápoles, Itália, e acompanha a amizade entre duas mulheres, Elena Greco e Raffaella Cerullo, desde a infância até a vida adulta.

O romance começa com Elena, a narradora, refletindo sobre sua amizade intensa e complexa com Raffaella, também conhecida como "Lila". Ambas cresceram num bairro operário de Nápoles na década de 1950, enfrentando as dificuldades e as dinâmicas sociais da época. Enquanto Elena é uma aluna aplicada e sonha com um futuro distante do seu ambiente, Lila é uma personalidade mais rebelde, que luta contra as limitações impostas pela sua família e pela sociedade.

A história explora temas como a amizade, a rivalidade, a luta pela identidade, a condição feminina e as mudanças sociais e políticas da Itália pós-guerra. À medida que as protagonistas se tornam adultas, suas vidas tomam caminhos distintos, mas a conexão entre elas permanece forte, refletindo as complexidades e as tensões que caracterizam a relação.

"A Amiga Genial" é, assim, uma obra profunda que retrata não apenas a amizade entre duas mulheres, mas também as nuances de classe, gênero e cultura em um período de grandes transformações. A escrita de Ferrante é intensa e envolvente, capturando a essência das emoções e das experiências humanas.

Carmen Teixeira Miranda
Docente de Matemática 
(Coordenadora do Departamento de Matemática e Ciências Experimentais)

terça-feira, 11 de fevereiro de 2025

O Vendedor de Felicidade

 


Será que a felicidade pode ser comprada?

Pergunta pertinente a exigir outra: quem a vende e onde?

Para saber a resposta é só ler o livro O Vendedor de Felicidade de Davide Calì e Ilustração de Marco Somà.

Não faltam compradores! Pois, a felicidade muito importante na nossa vida!

Esta obra aborda o conceito da busca pela felicidade como um bem ou serviço que todos desejam, mas que, na verdade, é subjetivo e pessoal. A felicidade, como tema central, é apresentada de forma delicada, sugerindo que ela não é um produto padronizado, mas algo que depende das experiências, escolhas e perspetivas de cada indivíduo. Procure o livro numa das nossas bibliotecas e encante-se!

Gracinda Moreira
Docente de Português 
(Professora Bibliotecária)

segunda-feira, 10 de fevereiro de 2025

Eichmann em Jerusalém – Um Relato Sobre a Banalidade do Mal


É sempre possível concordar ou discordar de uma narrativa, sem que isso nos faça demarcar ou rever em tudo, não nos deixando ir por ondas de arrasto. Deixo duas sugestões de leitura da filósofa alemã, Hannah Arendt. Dois textos no âmbito da filosofia política, com reflexões sobre o comportamento instrumentalizado do cidadão nos regimes totalitaristas. “As Origens do Totalitarismo”, um livro em que a autora analisa as origens históricas e os pontos comuns dos principais regimes totalitários do séc. XX. “Eichmann em Jerusalém – um relato sobre a banalidade do mal”, com base no julgamento de Adolf Eichmann, funcionário colaborador do regime nazi, responsável pela logística dos transportes de prisioneiros. Nestes textos, com os factos e reflexões que a autora reporta ao processo de Eichmann, em artigos para a revista “The New Yorker”, é abordado um dos mais mediáticos julgamentos de um colaborador do regime nazi. Segundo a autora, no decorrer do processo vai surgindo o rosto do " comum funcionário burocrata, não revelador do monstro sanguinário"; que todos esperavam ver. Aí é problematizada o conceito:"banalidade do mal";. Com a reflexão filosófica de base, Hannah Arendt analisa a possibilidade de um Estado igualar a violência, ao exercício comum do cumprimento de um papel burocrático. Questão que se torna o centro da obra, com os pontos de confluência das responsabilidades ética e legal, de um cidadão que, na sua defesa em tribunal, alegava ter praticado uma ação conforme a ordem legal vigente. Neste seu testemunho enraizado nos factos, com uma visão abrangente e de expectável controvérsia, a autora deixa-nos pano de fundo para uma reflexão mais séria sobre atos de violência que se escondem por trás de um cumprimento cego sob o jugo de uma autoridade. Um alerta para os perigos da massificação da opinião pública, como consequência da ausência de pensamento crítico. Um apelo à memória e responsabilidade coletivas, em relação ao que se vai tornando presente. Um cenário de esperança, também, num apelo implícito ao reforço de um sistema de ensino atento à formação de cidadãos esclarecidos, informados, interventivos e críticos. As obras trazem-nos uma realidade bem mais complexa do que o binómio bem/mal. Além disso, as nuances das cores com que se pinta parecem depender da forma como se consegue ver e analisar os factos, na busca de uma visão imparcial e crítica, com a consciência da complexidade das interações humanas e da responsabilidade moral do sujeito.

https://youtu.be/06jufTlnFbU?si=KjXrrX9Jl0NHAmU4

Paula Ribeiro
Docente de Filosofia
(Coordenadora do Departamento de Ciência Sociais e Humanas)

sábado, 8 de fevereiro de 2025

Os Irmãos Karamazov

 

Aquele livro que, profundamente, me marcou, desde a primeira vez que o tive e li, num só volume, na edição do Círculo de Leitores (1981), foi Os Irmãos Karamazov de Dostoievski.
Aquele que termina assim:
“[...]
– Com certeza, Ressuscitaremos, tornaremos a ver- nos, para contar uns aos outros tudo quanto se passou – respondeu Aliocha, meio a rir, meio sério.
– Há-de ser bom! Disse Kolia.
– E agora, já falamos demais. Vamos ao repasto fúnebre. Não se preocupem com o facto de comermos filhoses. É uma velha tradição que tem o seu lado de aceitável – volveu Aliocha, sorridente. – E agora vamos de mão dada.
– E sempre assim, toda a vida de mão dada! Hurra por Karamazov! – insistiu Kolia, entusiasmado. E todos os pequenos repetiram as aclamações.”
Disse Janko Lavrin (“Dostoievski”. Círculo-Leitores: 2003:7):
“Se considerarmos que uma das funções da Arte é alargar e aprofundar a nossa recepção da realidade, do homem e da vida, não podemos hesitar em colocar Dostoievski como artista ao nível de um Shakespeare. Dificilmente encontraremos outro autor, cuja necessidade de revelar os segredos da consciência humana com todos os seus medos, contradições e conflitos dramáticos seja tão impetuosa como a de Dostoievski [...]”
Tinha 15, 16 anos quando esbarrei (é o termo) com os vários livros dele que havia lá por casa dos meus pais: Crime e Castigo, Os Possessos, Está Morta, Noites Brancas, Humilhados e Ofendidos, Pobre Gente, Recordações da Casa dos Mortos, Notas do Submundo e O Idiota, que me chamou a atenção, que não li, mas que quero ler.
Os Irmãos Karamazov foi a maior revelação, para mim (nessa altura e para sempre) da Literatura.
E esquecendo Ivan (o meu preferido dos 3 “Irmãos Karamazov” e, com ele, “O Inquisidor-Mor”), e Dmitri (o outro lado do homem – ou da vida), fixemos aqui o epílogo do romance – esse final extraordinário, luminoso, paradoxal – juntando-nos a Aliocha, no enterro de Iliucha:
“[...] Karamazov – perguntou Kolia –, é verdade o que diz a religião, que nós ressuscitamos de entre os mortos, que tornaremos a ver-nos uns aos outros e todos a Iliucha?
– Com certeza. Ressuscitaremos, tornaremos a ver-nos, para contar uns aos outros tudo o que se passou – respondeu Aliocha, meio a rir, meio a sério.
– Há-de ser bom – disse Kolia.
– E agora, já falámos demais. Vamos ao repasto fúnebre. Não se preocupem com o facto de comermos filhoses. É uma velha tradição que tem o seu lado aceitável – volveu Aliocha, sorridente. – E agora vamos de mão dada.
– E sempre assim, toda a vida, de mão dada” Hurra por Karamazov! – insistiu Kolia, entusiasmado. E todos os pequenos repetiram as aclamações.”
Ou, se preferirem, outro final – o de Notas de Submundo, com uma “verdade” que tomo como (quase) minha:
“[...] Deixem-nos sem livros e ficaremos de imediato perdidos e confusos. Não sabemos ao que nos juntar, ao que nos agarrar, o que amar e o que odiar, o que respeitar e o que desprezar. Estamos oprimidos por sermos homens – homens com um verdadeiro corpo individual e verdadeiro sangue, temos vergonha disso, pensamos que é uma desgraça e tentamos chegar a ser uma espécie de homem generalizado e impossível (…). Em breve, tentaremos de alguma forma nascer de uma ideia. Mas basta. Não quero escrever mais do «Submundo».”
Esquecendo, por momentos, toda a bravata de Trumps e chapéus de Melanies, pondo entre parênteses bagagens e arrudas, façamos um minuto de silêncio e recordemos Fédor Dostoievski ouvindo Hipólito Kirilovich, no “seu canto do cisne”, a interpretação dessas vozes diferentes, mas conjugadas – interpretadas em pleno tribunal:
“ – Que é pois esta família Karamazov, que alcançou de súbito tão triste celebridade? Talvez eu exagere, mas afigura-se-me que ela resume certos traços fundamentais da nossa sociedade
contemporânea, em estado microscópico (…). Vejam este velho libertino, este “pai de família” que morreu infaustamente (…). Completa ausência de sentido moral, inextinguível sede de viver. Além dos prazeres sensuais, mais nada existe, eis o que ele ensina aos filhos (…). Vejamos os filhos deste homem (…) Ivan é um rapaz moderno, bastante instruído e inteligente, que não acredita em nada e já renegou muitas coisas, como o pai (…) Segundo ele, tudo é permitido (…). O mais novo, ainda adolescente, é piedoso e modesto. Ao inverso da doutrina sinistra do irmão, tende para os «princípios populistas», ou o que assim se chama em certos meios intelectuais. (…) Encarna, parece-me, inconscientemente, o desespero fatal que leva muitos jovens da nossa infeliz sociedade (por medo do cinismo corruptor e porque atribuem, sem razão, todos os nossos males à cultura ocidental), a regressar, como eles designam, ao «torrão natal» e a lançar-se, por assim dizer, nos braços da terra mãe (…). O primogénito desta família está no banco dos réus As suas aventuras desenrolam-se diante de nós. Chegou a hora de tudo aparecer em pleno dia. Ao inverso dos irmãos (um ocidentalista e outro populista), este representa a Rússia no estado natural (…). Há em nós uma aliança espantosa do bem e do mal…”
Assim, de facto, inscrevi, na minha juventude, esta “marca” para a vida que vai ressurgindo, em formas diferentes, em dias sucessivos de anos diversos, mas que se tornou símbolo forte para mim:
Dostoievski – marca maior da literatura, um dos maiores génios, dentro do “meu” cânon Universal: Dostoievski, Shakespeare, Camões, Fernando Pessoa, Cervantes, Proust e Borges (sem qualquer tipo de ordem).
Dostoievski morreu (fisicamente) no dia 9 de Fevereiro, do ano de 1881, mas permanecerá, profundamente como se esta citação de Noites Brancas surgisse para explicar o que senti
“Meu Deus! Um instante de completa felicidade não basta já para uma vida inteira?”

Paula Castelo Branco
Docente de Português
(Coordenadora do Departamento de Línguas)

quinta-feira, 30 de janeiro de 2025

Cisnes Selvagens: Três Filhas da China




Cisnes Selvagens: Três Filhas da China é uma obra autobiográfica de Jung Chang que narra a história de três gerações de mulheres chinesas: sua avó, sua mãe e ela mesma. O livro oferece-nos um retrato íntimo e emocionante da China ao longo do século XX, abordando os impactos das mudanças políticas e sociais, desde a dinastia Qing até a Revolução Cultural.

A avó de Jung, uma mulher frágil e prisioneira de um destino inevitável, tornou-se concubina de um influente senhor feudal, obrigada a seguir as rigorosas tradições da sociedade da época.

Sua mãe, movida pelo sonho de um país mais justo, dedicou-se à causa comunista, tornando-se membro ativo do Partido. Enfrentando os desafios impostos pelo regime de Mao Tsé-Tung, cedo se debateu com as realidades brutais do mesmo regime, onde a sua experiência foi marcada por conflitos ideológicos e pelo sofrimento pessoal.

E Jung, nascida sob o peso dessas memórias e esperanças, cresceu envolvida pelo entusiasmo e intensidade da Revolução Cultural. Profundamente influenciada por esse ambiente, Jung lutou para entender a sua identidade ideológica num mundo que parecia mudar a cada instante. A autora testemunhou e sofreu as repressões do governo, mas conseguiu emigrar para o Reino Unido, tornando-se uma das primeiras chinesas a obter um doutorado na Universidade de York.

Este livro combina história pessoal e coletiva, revelando um olhar profundo sobre os efeitos do autoritarismo, da opressão feminina e das mudanças políticas na China. Entre exílios, reencontros e amores silenciados, Cisnes Selvagens é um testemunho de coragem e esperança, celebrando a resistência das mulheres e a luta pela liberdade.

Ana Moutinho
Docente de Matemática
(Adjunta do Diretor)

quarta-feira, 22 de janeiro de 2025

O Homem de Constantinopla



Enredo e Contexto

Publicado em 2013, O Homem de Constantinopla é uma obra emblemática de José Rodrigues dos Santos, autor português reconhecido pela sua capacidade de aliar narrativa envolvente e investigação histórica rigorosa. Este romance, o primeiro de uma duologia dedicada à vida de Calouste Gulbenkian, transporta o leitor para o final do século XIX e início do século XX, uma época de grandes transformações políticas e sociais.

A história acompanha a juventude de Calouste Sarkis Gulbenkian, desde a sua infância em Constantinopla (atual Istambul) até aos primeiros passos rumo ao domínio do setor petrolífero global. Visionário, estratega e amante das artes, Gulbenkian é retratado como um homem cuja ambição e inteligência moldaram não apenas a sua vida, mas também os rumos do mundo em que viveu.

Personagens e Perspetivas

O romance apresenta uma galeria de personagens que enriquecem a trama e refletem as complexas dinâmicas da época. Entre figuras históricas e personagens fictícias, José Rodrigues dos Santos constrói um mosaico que revela os desafios de Calouste, desde as tensões familiares até às exigências do mundo dos negócios. Através destes encontros e desencontros, o leitor é imerso numa era de transição marcada pelo declínio do Império Otomano e pela ascensão de novas potências industriais.

Temas e Relevância

O Homem de Constantinopla aborda temas intemporais como ambição, identidade, legado cultural e a interseção entre tradição e modernidade. Gulbenkian, além de magnata do petróleo, foi um mecenas apaixonado pela arte, e o livro reflete esta faceta com profundidade, apresentando a cultura como um contraponto essencial à sua vida de negócios. A narrativa também explora a influência das grandes transformações históricas na vida individual, sublinhando o impacto do poder e da inovação.

Estilo Narrativo

José Rodrigues dos Santos combina rigor histórico com uma escrita acessível e cativante. A descrição detalhada dos cenários, as reflexões das personagens e os diálogos dinâmicos conferem à obra um equilíbrio entre profundidade emocional e fluidez narrativa. A sua abordagem permite que o leitor mergulhe no ambiente luxuoso e tenso da época, ao mesmo tempo que desvenda os bastidores do poder.

Para quem é este livro?

O Homem de Constantinopla é uma obra indicada para leitores que apreciam romances históricos bem estruturados e repletos de personagens complexas e cativantes. A riqueza de detalhes históricos, aliada à profundidade psicológica das personagens, torna-o uma escolha indispensável para quem se interessa pelas grandes mudanças que moldaram o mundo contemporâneo.

Os fãs, como eu, da obra de José Rodrigues dos Santos encontrarão neste livro o mesmo fascínio por mistérios e conhecimento que caracteriza obras como O Codex 632, que investiga a verdadeira identidade de Cristóvão Colombo, ou A Fórmula de Deus, onde ciência e religião se cruzam num thriller envolvente. Também em A Chave de Salomão e O Último Segredo, o autor explora temas como conspiração, espiritualidade e a interseção entre história e modernidade. Com O Homem de Constantinopla, José Rodrigues dos Santos reforça a sua posição como um dos mais versáteis e marcantes autores da literatura portuguesa contemporânea.

                                        Rui Filipe Magalhães
Docente de Biologia e Geologia
(Presidente do Conselho Geral)

terça-feira, 21 de janeiro de 2025

A História de uma Serva

 

Quando a leitura é um dos nossos maiores prazeres, escolher um livro preferido torna-se uma tarefa complicada. Escolhi A História de uma Serva, de Margaret Atwood, por razões que …(vais ter de ler até ao fim)

Este romance distópico conta a história de Offred, uma mulher que vive numa sociedade totalitária chamada República de Gilead, onde as mulheres perderam todos os seus direitos. Offred, como muitas outras, é forçada a servir como "serva", tendo como único propósito dar filhos à elite dominante. Atwood descreve, com uma precisão assustadora, como um regime opressor pode usar a religião, o poder e o medo para desumanizar e controlar. Apesar de escrito em 1985, o livro toca profundamente em questões que nos devem preocupar nestes tempos agitados.

Escolhi esta obra porque o mundo atual começa a dar sinais preocupantes. O discurso contra a igualdade de género ganha força, muitas vezes sem que se compreenda o que esta igualdade significa. Não se trata de homens e mulheres serem iguais, porque ninguém é igual a ninguém. Trata-se de assegurar os mesmos direitos e oportunidades para todos, independentemente do género.

Exemplos de desigualdade não faltam. No Afeganistão, por exemplo, as mulheres são reduzidas a uma não-existência, silenciadas e privadas de educação. Em pleno século XXI, assistimos a um preocupante retrocesso civilizacional.

A educação é o caminho para resistir. A leitura, como A História de uma Serva, é um primeiro passo poderoso, pois abre os olhos, inspira mudanças e dá-nos as ferramentas para lutar contra a ignorância e construir um mundo mais justo.

Maria Manuel Guedes
Docente de Física e Química
(Adjunta do Diretor)