Dedico-lhe o meu silêncio, de Mario Vargas Llosa é o novo romance, deste escritor peruano, galardoado com o Prémio Nobel da Literatura em 2010.
A escolha deste livro, que adquiri aquando da minha última visita à Feira do Livro no Porto, no passado mês de setembro, deve-se essencialmente ao fascínio que me causou o título e às reflexões por ele suscitadas. Que silêncio será este? Dedicado a quem? Será, certamente, uma preciosidade, uma relíquia para alguém muito especial… Pois não é no silêncio que conseguimos perscrutar, ouvir o inaudível e, assim, conhecermos e compreendermos verdadeiramente o outro?
A ação decorre no Peru, onde o protagonista, Toño Azpilcueta, um erudito em música crioula, leva a cabo um trabalho de investigação sobre Lalo Molfino, um guitarrista chiclayano, que havia brilhado numa atuação em Lima, um momento de singular beleza que a todos tocou profundamente. Assim começou a germinar na cabeça de Toño uma ideia genial para acabar com os conflitos: a reconciliação através da música. Na verdade, foi nos callejones que nasceu a música crioula, aí floresceu e ascendeu socialmente, primeiramente à classe média e, mais tarde, à elite, sendo muito apreciada nos salões nobres. Se a música fez este percurso, tendo acabado com as rivalidades entre classes sociais, será que não poderá ser também a solução para o fim do terrorismo nacional?
Muito diferente de Conversa n’A Catedral (única obra que li do autor), em que as vozes das personagens vão alternando e exigem, por isso, uma maior atenção do leitor para que não se perca no enredo, esta narrativa é dotada de um discurso menos complexo, mais linear e, consequentemente, mais fluido.
“Dedico-lhe o meu silêncio”, é a frase que Lalo Molfino, no momento de despedida, dirige à bela Cecília. Num outro plano, poder-se-á pensar nesta frase como uma despedida de Mario Vargas Llosa, tendo em conta que, na nota final do livro, refere “Será o último que escreverei”. Assim sendo, é aos leitores que Llosa dedica o seu silêncio.
Um romance encantador sobre o poder apaziguador da música e da sua beleza, que apela ao sentimento e à reflexão.
Isabel Nunes Oliveira
Docente de Português e Francês
(Representante de Área Disciplinar Línguas Românicas)
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