quinta-feira, 30 de janeiro de 2025

Cisnes Selvagens: Três Filhas da China




Cisnes Selvagens: Três Filhas da China é uma obra autobiográfica de Jung Chang que narra a história de três gerações de mulheres chinesas: sua avó, sua mãe e ela mesma. O livro oferece-nos um retrato íntimo e emocionante da China ao longo do século XX, abordando os impactos das mudanças políticas e sociais, desde a dinastia Qing até a Revolução Cultural.

A avó de Jung, uma mulher frágil e prisioneira de um destino inevitável, tornou-se concubina de um influente senhor feudal, obrigada a seguir as rigorosas tradições da sociedade da época.

Sua mãe, movida pelo sonho de um país mais justo, dedicou-se à causa comunista, tornando-se membro ativo do Partido. Enfrentando os desafios impostos pelo regime de Mao Tsé-Tung, cedo se debateu com as realidades brutais do mesmo regime, onde a sua experiência foi marcada por conflitos ideológicos e pelo sofrimento pessoal.

E Jung, nascida sob o peso dessas memórias e esperanças, cresceu envolvida pelo entusiasmo e intensidade da Revolução Cultural. Profundamente influenciada por esse ambiente, Jung lutou para entender a sua identidade ideológica num mundo que parecia mudar a cada instante. A autora testemunhou e sofreu as repressões do governo, mas conseguiu emigrar para o Reino Unido, tornando-se uma das primeiras chinesas a obter um doutorado na Universidade de York.

Este livro combina história pessoal e coletiva, revelando um olhar profundo sobre os efeitos do autoritarismo, da opressão feminina e das mudanças políticas na China. Entre exílios, reencontros e amores silenciados, Cisnes Selvagens é um testemunho de coragem e esperança, celebrando a resistência das mulheres e a luta pela liberdade.

Ana Moutinho
Docente de Matemática
(Adjunta do Diretor)

quarta-feira, 22 de janeiro de 2025

O Homem de Constantinopla



Enredo e Contexto

Publicado em 2013, O Homem de Constantinopla é uma obra emblemática de José Rodrigues dos Santos, autor português reconhecido pela sua capacidade de aliar narrativa envolvente e investigação histórica rigorosa. Este romance, o primeiro de uma duologia dedicada à vida de Calouste Gulbenkian, transporta o leitor para o final do século XIX e início do século XX, uma época de grandes transformações políticas e sociais.

A história acompanha a juventude de Calouste Sarkis Gulbenkian, desde a sua infância em Constantinopla (atual Istambul) até aos primeiros passos rumo ao domínio do setor petrolífero global. Visionário, estratega e amante das artes, Gulbenkian é retratado como um homem cuja ambição e inteligência moldaram não apenas a sua vida, mas também os rumos do mundo em que viveu.

Personagens e Perspetivas

O romance apresenta uma galeria de personagens que enriquecem a trama e refletem as complexas dinâmicas da época. Entre figuras históricas e personagens fictícias, José Rodrigues dos Santos constrói um mosaico que revela os desafios de Calouste, desde as tensões familiares até às exigências do mundo dos negócios. Através destes encontros e desencontros, o leitor é imerso numa era de transição marcada pelo declínio do Império Otomano e pela ascensão de novas potências industriais.

Temas e Relevância

O Homem de Constantinopla aborda temas intemporais como ambição, identidade, legado cultural e a interseção entre tradição e modernidade. Gulbenkian, além de magnata do petróleo, foi um mecenas apaixonado pela arte, e o livro reflete esta faceta com profundidade, apresentando a cultura como um contraponto essencial à sua vida de negócios. A narrativa também explora a influência das grandes transformações históricas na vida individual, sublinhando o impacto do poder e da inovação.

Estilo Narrativo

José Rodrigues dos Santos combina rigor histórico com uma escrita acessível e cativante. A descrição detalhada dos cenários, as reflexões das personagens e os diálogos dinâmicos conferem à obra um equilíbrio entre profundidade emocional e fluidez narrativa. A sua abordagem permite que o leitor mergulhe no ambiente luxuoso e tenso da época, ao mesmo tempo que desvenda os bastidores do poder.

Para quem é este livro?

O Homem de Constantinopla é uma obra indicada para leitores que apreciam romances históricos bem estruturados e repletos de personagens complexas e cativantes. A riqueza de detalhes históricos, aliada à profundidade psicológica das personagens, torna-o uma escolha indispensável para quem se interessa pelas grandes mudanças que moldaram o mundo contemporâneo.

Os fãs, como eu, da obra de José Rodrigues dos Santos encontrarão neste livro o mesmo fascínio por mistérios e conhecimento que caracteriza obras como O Codex 632, que investiga a verdadeira identidade de Cristóvão Colombo, ou A Fórmula de Deus, onde ciência e religião se cruzam num thriller envolvente. Também em A Chave de Salomão e O Último Segredo, o autor explora temas como conspiração, espiritualidade e a interseção entre história e modernidade. Com O Homem de Constantinopla, José Rodrigues dos Santos reforça a sua posição como um dos mais versáteis e marcantes autores da literatura portuguesa contemporânea.

                                        Rui Filipe Magalhães
Docente de Biologia e Geologia
(Presidente do Conselho Geral)

terça-feira, 21 de janeiro de 2025

A História de uma Serva

 

Quando a leitura é um dos nossos maiores prazeres, escolher um livro preferido torna-se uma tarefa complicada. Escolhi A História de uma Serva, de Margaret Atwood, por razões que …(vais ter de ler até ao fim)

Este romance distópico conta a história de Offred, uma mulher que vive numa sociedade totalitária chamada República de Gilead, onde as mulheres perderam todos os seus direitos. Offred, como muitas outras, é forçada a servir como "serva", tendo como único propósito dar filhos à elite dominante. Atwood descreve, com uma precisão assustadora, como um regime opressor pode usar a religião, o poder e o medo para desumanizar e controlar. Apesar de escrito em 1985, o livro toca profundamente em questões que nos devem preocupar nestes tempos agitados.

Escolhi esta obra porque o mundo atual começa a dar sinais preocupantes. O discurso contra a igualdade de género ganha força, muitas vezes sem que se compreenda o que esta igualdade significa. Não se trata de homens e mulheres serem iguais, porque ninguém é igual a ninguém. Trata-se de assegurar os mesmos direitos e oportunidades para todos, independentemente do género.

Exemplos de desigualdade não faltam. No Afeganistão, por exemplo, as mulheres são reduzidas a uma não-existência, silenciadas e privadas de educação. Em pleno século XXI, assistimos a um preocupante retrocesso civilizacional.

A educação é o caminho para resistir. A leitura, como A História de uma Serva, é um primeiro passo poderoso, pois abre os olhos, inspira mudanças e dá-nos as ferramentas para lutar contra a ignorância e construir um mundo mais justo.

Maria Manuel Guedes
Docente de Física e Química
(Adjunta do Diretor)

segunda-feira, 13 de janeiro de 2025

Era uma vez tudo

 


Publicado em fevereiro de 2023, Era Uma Vez Tudo é o mais recente romance do autor brasileiro Paulo Nogueira, que viveu durante 25 anos em Portugal. Jornalista de formação e crítico de cinema, o autor trabalhou em publicações como O Independente.

Neste livro, oferece-nos uma narrativa que combina personagens cativantes, histórias únicas e um olhar simultaneamente crítico e bem-humorado sobre a literatura e o processo de escrita criativa.

Um curso de Escrita Criativa como ponto de partida

A história desenrola-se em torno de um curso de Escrita Criativa, onde dez personagens, vindas de contextos profundamente distintos, se reúnem para explorar as suas aspirações literárias. Cada uma carrega consigo um universo pessoal rico, cujas experiências moldam tanto as histórias que desejam contar como as dinâmicas que estabelecem com os restantes participantes.

Os participantes deste curso referem-se ao responsável pelo curso como "Guru Verbal" e esta denominação comum vai ligando as histórias entre si.

As vidas que compõem a narrativa

Cada capítulo mergulha profundamente na história de uma destas personagens, revelando as suas motivações, sonhos e fragilidades:

Uma octogenária, herdeira de uma família que construiu o edifício mais icónico da cidade, destruído por um incêndio misterioso, e que deseja eternizar essa história num romance.

Um projetista de planetários, que enfrenta o luto pela perda da esposa em circunstâncias suspeitas, procurando transformar a sua dor numa narrativa significativa.

Um intersexo ucraniano, inspirado pela obra de Clarice Lispector, que luta para encontrar a sua própria voz literária enquanto enfrenta questões de identidade.

Um fotógrafo ameaçado pela cegueira, que corre contra o tempo para concluir uma obra literária que sonha ser revolucionária.

Uma jovem oriental, que ambiciona combinar a estética do mangá japonês com a tradição literária de Murasaki Shikibu, enquanto lida com conflitos familiares.

Uma enfermeira com destino a Marte, que quer escrever um Génesis futurista, expandindo os limites da ficção científica.

Um ilusionista, determinado a revitalizar o realismo mágico na literatura, enquanto enfrenta os seus próprios demónios.

Uma astróloga, que sonha criar um oráculo literário, misturando as estrelas com a narrativa.

Um geólogo judeu, que precisa viajar a Auschwitz para confrontar os segredos da sua família e terminar o seu livro.

Estrutura e temas do romance

Dividido em duas partes, cada uma com dez capítulos, o romance tece as histórias destas personagens enquanto vivenciam os desafios e descobertas do curso de Escrita Criativa. A sala de aula transforma-se num microcosmo onde dramas pessoais, ambições artísticas e personalidades singulares colidem, reflectindo as nuances da condição humana numa alternância entre comédia e tragédia.

Os temas abordados são vastos e profundos: a busca pela identidade, a superação de traumas, a influência das vivências pessoais na criação artística e o papel da memória na construção de histórias. Apesar dos momentos de grande intensidade emocional, o humor subtil de Paulo Nogueira traz leveza e equilíbrio à narrativa.

Estilo envolvente

Com uma linguagem cuidada e acessível, o autor alterna entre descrições pormenorizadas e diálogos vivos, conferindo à narrativa um ritmo dinâmico que prende o leitor. A diversidade das personagens é um dos pontos altos do romance, proporcionando diferentes perspectivas e permitindo que leitores com os mais variados perfis se identifiquem com as histórias.

Uma celebração da literatura

Era Uma Vez Tudo é mais do que uma história sobre escrita: é uma homenagem à literatura enquanto forma de expressão, cura e transformação pessoal e social. O livro oferece uma reflexão sobre as relações humanas e os desafios da sociedade contemporânea, sem nunca perder de vista o encanto e o poder das palavras.

Para quem é este livro?

Cada capítulo é, como se percebeu, uma história independente onde as personagens se entrecruzam (falando sobre cada uma delas, enquanto participante do mesmo curso, tecendo considerações curiosas e trazendo uma lufada de realidade àquele universo tão denso, rico e estranho). Em cada história há factos verídicos que revelam uma cultura geral do autor deveras abrangente. 

Assim, este livro é recomendado para quem aprecia histórias com profundidade psicológica e repletas de personagens diversificadas. É também uma celebração da arte de bem contar histórias.

Esta obra desafia o leitor a pensar muito para além da última página, sublinhando o impacto da literatura na vida de quem a lê e de quem a cria.

 Albino Pereira
Docente de Matemática
(Diretor do AEVilela)

quinta-feira, 9 de janeiro de 2025

Livros que nos unem


Caros alunos, professores, assistentes e famílias,

É com grande entusiasmo que damos início a este blog, um espaço pensado para todos os apaixonados por livros e histórias. Aqui, cada turma do nosso Agrupamento terá a oportunidade de divulgar um livro, partilhando as suas impressões e recomendando-o à comunidade escolar.

Ao longo do ano, acompanharemos as publicações de cada turma e, no final, realizaremos uma votação especial para eleger o Livro do Ano do Agrupamento de Escolas de Vilela. Esta é uma iniciativa que alia a promoção da leitura a uma abordagem lúdica e participativa, celebrando a magia que só os livros podem oferecer.

Queremos mostrar que a leitura vai muito além das obrigações escolares: ela é uma janela aberta para o mundo, capaz de nos inspirar, de nos fazer sonhar e de nos preparar para um futuro de sucesso. A leitura é uma aventura que nos transforma e aproxima, e este blog é o ponto de partida para muitas descobertas.

Convidamos todos a embarcar nesta jornada literária, partilhando livros, opiniões e o entusiasmo pela leitura. Juntos, vamos descobrir o que há de mais mágico nas páginas dos livros!

Boa leitura e boas partilhas!

Albino Pereira (Diretor do AEVilela)